terça-feira, 1 de novembro de 2016

Desinfetantes e Sanitizantes – Escolha e Aplicações



Olá caros colegas. Continuando o post sobre Desinfetantes e Sanitizantes, vou falar sobre a importância do uso destes produtos na limpeza de áreas de fabricação, equipamentos, laboratórios etc., de modo a minimizar e até mesmo eliminar problemas de contaminação.

Qual o saneante ideal?

Uma vez conhecendo os princípios e suas faixas de atividade, é possível fazer uma escolha bem direcionada dos produtos a serem usados para um esquema de sanitização. Importante também é conhecer a microbiota presente na planta de fábrica e laboratório, resultado de um bom estudo de monitoramento ambiental.

Há uns seis anos, quando eu atuava em laboratório terceirista, era praticamente um mantra o rodizio de princípios ativos, para que os micro-organismos não tivessem sua susceptibilidade frente a um ativo reduzida (o termo resistência aplica-se melhor em relação a antibióticos). Eu costumava utilizar o seguinte esquema: Na segunda-feira, tanto a sala limpa, quanto o laboratório de análises microbiológicas eram limpas com uma solução de ácido peracético na concentração de 0,2%. Em uma semana, de terça à sexta, utilizávamos hipoclorito de sódio na concentração de 0,5%, e na semana seguinte, neste mesmo período, utilizávamos quaternário de amônio na concentração de 1%. As soluções eram diluídas no próprio laboratório, na semana em que seriam usadas e tudo era devidamente registrado em formulários havia o acompanhamento dos resultados através do monitoramento ambiental. Com esse esquema, eu não tinha problemas com contaminações. Mas hoje o que se pratica é diferente. Usa-se um desinfetante validado e um com ação esporicida. É altamente recomendado ter mais de um fabricante validado, devido à possibilidade de descontinuação do produto.

Cabe à área técnica definir o principio ativo que melhor se aplica ao ambiente a ser sanitizado. No que tange à limpeza ou à sanitização, as metas, procedimentos operacionais, profundidade do estudo e detalhamento devem considerar o tipo de produção envolvida, seja quanto à exigência de pureza química ou microbiana, riscos envolvidos na contaminação cruzada, forma e formulação, ou ao grau de automatização, diagramas e fluxogramas, identificação de equipamentos, válvulas, tubulações, tempo entre final de uso e operações de limpeza. Além disso, os procedimentos de limpeza e sanitização devem considerar aspectos inerentes à classificação das salas, ao tipo de produto estéril ou não estéril, formas líquidas ou pós-higroscópicos, contaminações cruzadas, entre outras variáveis. A validação destes saneantes é imprescindível, e merece um post somente tratando deste assunto.

Lembrando que cada seguimento industrial segue suas próprias normas. É importante ter conhecimentos em boas práticas de fabricação na área farmacêutica, cosmética, alimentícia etc., pois um princípio ativo que é permitido para uma área farmacêutica talvez não seja adequado a uma área de produção de alimentos. Neste caso vale uma consulta as legislações pertinentes.

A importância de treinamento pessoal

Outro fator que nunca deve ser negligenciado é o treinamento do colaborador que vai executar a limpeza. Não basta escolher e validar um princípio ativo se quem vai aplica-lo não conhece técnicas básicas de limpeza. Sabemos que a ação mecânica também ajuda na remoção de sujidades e micro-organismos das superfícies. O colaborador deve realizar a aplicação em um movimento unidirecional (de cima para baixo, de dentro para fora). A paramentação adequada à classificação da área e a utilização de panos que não liberam partículas, mops, uso correto de EPI´s devem ser contemplados em procedimentos e reforçados em treinamentos periódicos. Juntamente com o treinamento, é importante avaliar o desempenho do colaborador através de uma prova escrita, monitoramento de pessoal, de modo a comprovar se este colaborador está apto para realizar a atividade.

Chuveiros de segurança e lava-olhos devem ser posicionados próximos às áreas de preparo de soluções sanitizantes.

Manter registros detalhados e atualizados

Como tudo o que está envolvido no controle de qualidade, a limpeza e sanitização devem ser registradas em formulários, o que permite inspecionar e manter a rastreabilidade em uma investigação de desvio. Dados como o principio utilizado, concentração, data de aplicação e responsável pela execução da tarefa são o mínimo a serem contemplados em um registro. Há a necessidade também de registrar dados pertinentes à solução utilizada, tais como validade, qual o princípio ativo e sua concentração, data de preparação e quem preparou (se for o caso). Importante manter os recipientes contendo o produto muito bem identificados com nome, concentração, data de preparo e data de validade evitando-se equívocos e utilização inadequada.

Não esquecer-se de manter arquivado e à disposição para consultas os certificados de todas as soluções utilizadas, isso é uma garantia da qualidade do produto adquirido. Existe uma gama enorme de soluções prontas à disposição no mercado hoje. A escolha do fabricante é tão importante quanto a escolha do ativo. Verificar se o produto é devidamente aprovado pela ANVISA é fundamental.

As farmacopeias e o FDA, bem como a ANVISA e MAPA possuem ótimas orientações quanto ao processo de sanitização e limpeza dos diversos seguimentos. Aliados à estudos da rotina de trabalho, monitoramentos ambientais, micro-organismos isolados, fornece todas as informações necessárias para a adequação deste processo. Sempre reforço a questão de manter procedimentos e registros em ordem, pois não deixa margem a questionamentos por parte de auditorias e fornece dados para a rastreabilidade de resultados não conformes.

Acredito ter abordado pontos básicos. No próximo post, vamos falar sobre a validação de limpeza, tópico extenso, mas de grande importância. Deixem seus comentários, dúvidas, críticas, sempre é importante um feedback, lembrando que o que escrevo aqui, além de ser baseado em literatura técnica, tem muito da minha vivência na área.

Até mais!

Fontes:

UNITED States Pharmacopeia. 37ª ed. 2014
PINTO, T.J.A.; KANEKO, T.M.; PINTO, A.F. Controle Biológico de Qualidade de Produtos Farmacêuticos, Correlatos e Cosméticos


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