Enquanto
elaboro um novo post técnico, faço uma pausa para reflexão.
Iniciei
minha vida de laboratório em 2003, fazendo estágio em um laboratório
terceirista. Estagiei por um ano e meio e consegui um estágio numa grande
multinacional de alimentos. Mas fiquei nesta empresa por pouco tempo, logo fui
chamada de volta ao antigo laboratório para uma vaga de analista. A escolha foi
difícil, sair de uma multinacional tradicionalíssima e sonho de muitos
profissionais para voltar a um laboratório pequeno. Mas eu encarei a volta,
pois na multinacional provavelmente eu terminaria o estágio e teria que
procurar emprego, dificilmente seria efetivada. Não por falta de capacidade,
mas por falta de vaga. Como me disseram na época: “Aqui só se efetiva um
estagiário se um analista morrer”.
Voltei
e me tornei analista. Mas em questão de três meses tive outro desafio: a
proposta de assumir a supervisão do setor no qual fui estagiária e mal
esquentei o lugar de analista. Fiquei apavorada! Recém-formada (me formei em
Biologia e em meu curso, os quatro primeiros anos eram para licenciatura e o 5º
ano para o bacharelado, opcional. Comecei a cursar, mas logo parei). Relutei em
aceitar, mas meu diretor convenceu-me. Trabalhei cinco anos como supervisora da
área de Microbiologia, o laboratório com o maior número de ensaios da empresa.
Confesso que olhando pra trás, não me considero uma excelente supervisora. Meu
perfil é de analista, bancada, e um cargo de chefia te obriga a lidar com
papéis e problemas. Mas tirei algo de muito bom desse período: o aprendizado, o
jogo de cintura, a capacidade de resolver problemas que tiravam o sono.
Como
era um laboratório terceirista, eu tinha a obrigação de saber de tudo um pouco:
Farmacêuticos, Cosméticos, Descartáveis, Alimentos, Dispositivos médicos,
Água... Conhecer legislação, compêndios, métodos, pois além de conduzir os
ensaios, tinha que atender o cliente, tirar suas dúvidas e enfrentar uma auditoria
por mês. Tinha que estar afiada para treinar minha equipe e solucionar tudo.
Confesso que foi difícil, mas cresci muito como profissional.
Como
supervisora, tive a oportunidade de conhecer muitos representantes comerciais,
e um deles, logo no inicio me ensinou uma valiosa lição, que direcionou a
maneira que eu conduzi minha carreira. Eis o que ele me disse:
“Na
Microbiologia, existem os contadores de bactérias e os microbiologistas. O
contador de bactéria acredita em tudo o que ele lê numa placa, num tubo etc.
Simplesmente lê e anota o resultado. Já o microbiologista para, analisa, pensa
se aquele resultado é verdadeiro ou se não foi um desvio analítico, uma
contaminação no meio da análise. O que você quer ser? Uma contadora de bactéria
ou uma microbiologista?”
Eu
escolhi ser a Microbiologista. Meu trabalho não terminava no horário do
expediente. Eu fiz cursos, li, pesquisei. Não estou dizendo que devemos
esquecer nossa vida particular e só pensar no trabalho. Longe disso! Mas
separar um tempo pra estudar e se atualizar é fundamental.
Outro
ponto é o raciocínio, a investigação. Quando eu me via diante de um problema,
eu não sossegava enquanto não encontrasse a solução. Pesquisava em livros,
conversava com colegas (e nesse tempo não tinha grupo de whats pra me ajudar,
era tudo no telefone, até em auditorias, eu aproveitava a experiência do
auditor e trocava ideias com ele, para melhorar meus procedimentos e métodos,
muitas vezes na cara de pau).
Ser
microbiologista é ser um detetive, bem ao estilo Sherlock Holmes. Observar,
conhecer o histórico do seu produto ou processo e desconfiar quando algo sai do
padrão. Buscar informações. Hoje, a internet oferece um mundo de possibilidades,
mas é preciso saber filtrar também. E estudar, fazer cursos, ler artigos, estar
antenado às mudanças e se adaptar ao novo.
Por
razões de força maior, estou fora da vida de analista há quase quatro anos. Mas
isso não foi motivo para enterrar todo o conhecimento que acumulei. Lógico,
passei um período me dedicando à minha saúde integralmente, mas quando a poeira
baixou, voltei a estudar, por conta própria mesmo. E agora me dedico a ajudar
outras pessoas, porque conhecimento não se guarda, ele deve ser compartilhado.
É a minha maneira de contribuir para o aprimoramento dessa área que tanto
gosto.
Meu
recado aqui é esse: não sejam “contadores de bactérias”, tornem-se Microbiologistas.
Não se rendam ao mais fácil. Aprendam com os erros, compartilhem esse
aprendizado. Quem segue por esse caminho, com certeza será um profissional
respeitado e deixara sua contribuição nessa área tão importante que é a de
controle de qualidade. Isso vale pra qualquer profissional.
É
isso. Estou elaborando um post técnico, um pouco mais complexo, por isso a
demora. Mas logo estará aqui.
Oi Nanci. Entrei em seu blog pelo link que co.partilhou no grupo de microbiologia, do Whatsapp.
ResponderExcluirAo ler este seu post me senti bastante confrontado.
Me pego muitas vezes sendo o contador de bactérias. Agindo de maneira automática e técnica, deixando a rotina roubar o brilho do meu potencial.
Mas ler sua postagem me me animou. Espero um dia ser um microbiologista tão bom quanto você.
Sucesso!
Boa noite Nanci. Como nosso colega Maximiliano também tive acesso ao blog através do grupo whatsapp. Muito legal sua história e a forma que você lida com o conhecimento. Penso como você o conhecimento deve ser compartilhado Para se desenvolver. Hoje me vejo como uma contadora de bactérias, mas pela falta de experiência e conhecimento, Este ultimo busco todos os dias! Não esta sendo fácil, lendo aqui, investigando ali sinto que já há melhora, porem falta muito chão pela.frente.
ResponderExcluirÓtima reflexão Nanci e obrigado por compartilhar!
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