segunda-feira, 22 de setembro de 2025

A Sinfonia da Excelência: Engenharia, Qualidade e Validação em Total Integração nas Indústrias Farmacêuticas, Alimentícias e Cosméticas



Olá colegas, trago hoje um excelente texto de um colega da área Filipe Daniel de Araújo, espero que gostem!

O Coração da Indústria: Onde a Segurança Encontra a Inovação

Imagine um mundo onde os medicamentos não curam, os alimentos não nutrem e os cosméticos não embelezam. É um cenário impensável, e a razão pela qual as indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética operam sob um rigoroso manto de segurança e qualidade. Mas como essa excelência é alcançada e mantida? A resposta reside em uma sinfonia perfeitamente orquestrada entre três pilares fundamentais: Engenharia, Qualidade e Validação. Longe de serem departamentos isolados, a verdadeira magia acontece quando esses setores trabalham em total integração, transformando diretrizes regulatórias em produtos que protegem e melhoram vidas. Este artigo mergulha na essência dessa colaboração, desvendando como a união desses conhecimentos é a chave para a inovação responsável e a confiança do consumidor.

Bússola Regulatória: Guiando a Jornada da Qualidade

No epicentro dessas indústrias, a conformidade regulatória não é apenas uma obrigação, mas um compromisso inegociável. Órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil e a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos atuam como bússolas, estabelecendo as coordenadas para a segurança e eficácia dos produtos. Engenharia, Qualidade e Validação não apenas seguem essas regras; eles as interpretam, implementam e garantem que cada etapa do processo produtivo esteja em perfeita harmonia com as expectativas regulatórias.

ANVISA: O Guardião da Saúde no Brasil

A ANVISA, com sua vasta gama de Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs), molda o cenário industrial brasileiro. Vejamos como algumas delas tecem a rede de integração: 

  • RDC 658/2022 – A Espinha Dorsal da Farmacêutica: Esta resolução não é apenas um conjunto de regras; é um manual que exige um Sistema da Qualidade Farmacêutica robusto [4]. Ela detalha as Boas Práticas de Fabricação (BPF) de Medicamentos, desde a gestão de pessoal e instalações até a produção e controle de qualidade. Aqui, a Engenharia projeta e mantém as instalações e equipamentos, a Qualidade define os padrões e a Validação prova que tudo funciona como deveria. A RDC 658/2022 explicitamente menciona a qualificação de utilidades como sistemas de HVAC e água, destacando a necessidade de que a Engenharia garanta a infraestrutura, a Qualidade defina os requisitos e a Validação ateste seu desempenho [4].
  • RDC 216/2004 – A Higiene na Mesa do Consumidor: Focada em Serviços de Alimentação, esta RDC [5] estabelece princípios de higiene, controle de contaminantes e procedimentos operacionais padronizados (POPs). Para a indústria alimentícia, isso se traduz na necessidade de a Engenharia projetar linhas de produção que facilitem a limpeza e sanitização, a Qualidade definir os protocolos de higiene e a Validação assegurar que esses processos sejam eficazes na prevenção de contaminação.
  • RDC 48/2013 – A Beleza com Responsabilidade: Esta resolução aprova as Boas Práticas de Fabricação para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes [6]. Ela enfatiza a responsabilidade compartilhada pela excelência do produto, a importância da documentação e a validação de atividades produtivas e de higienização. A Engenharia garante a infraestrutura adequada, a Qualidade estabelece os padrões e a Validação confirma que os sistemas de água e informatizados, por exemplo, operam conforme o esperado para manter a integridade do produto cosmético [6].

FDA: Padrões Globais de Excelência

Nos Estados Unidos, a FDA estabelece as Current Good Manufacturing Practice (CGMP), que são os requisitos mínimos para a fabricação de produtos. O guia "Process Validation: General Principles and Practices" da FDA é um mantra que ressoa em todas as indústrias reguladas: a qualidade deve ser "construída" no processo, não apenas testada no final [7]. Isso significa que a Engenharia deve projetar processos intrinsecamente robustos, a Qualidade deve monitorar e controlar cada etapa, e a Validação deve fornecer a prova documentada de que o processo é capaz de entregar consistentemente um produto de alta qualidade. Regulamentações como o 21 CFR Part 211 para medicamentos [8] e o 21 CFR Part 820 para sistemas de qualidade de dispositivos médicos (que agora incorpora a ISO 13485) [9] são exemplos claros dessa abordagem integrada.

ISO: A Linguagem Universal da Qualidade

Além das regulamentações nacionais, as normas da International Organization for Standardization (ISO) oferecem um vocabulário comum para a excelência global, complementando e, por vezes, influenciando as diretrizes locais.

  • ISO 9001 – O Alicerce da Gestão da Qualidade: Esta norma universal [10] fornece a estrutura para um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Ela é o ponto de partida para a melhoria contínua, onde a Engenharia otimiza processos, a Qualidade define os indicadores e a Validação verifica a eficácia das mudanças.
  • ISO 22716 – BPF para Cosméticos: Uma norma sob medida para a indústria cosmética [11], que detalha as Boas Práticas de Fabricação. Ela garante que a produção, controle, armazenamento e expedição de cosméticos sejam realizados sob os mais altos padrões de segurança e qualidade, exigindo a colaboração estreita entre Engenharia (infraestrutura), Qualidade (monitoramento) e Validação (comprovação).
  • ISO 22000 – Segurança Alimentar da Fazenda à Mesa: Essencial para a segurança de alimentos [12], esta norma abrange toda a cadeia produtiva. A Engenharia projeta as instalações e equipamentos, a Qualidade implementa os controles e a Validação assegura que os processos garantam a segurança do alimento em todas as etapas.
  • ISO 13485 – Qualidade em Dispositivos Médicos (e Além): Embora focada em dispositivos médicos [13], seus princípios de gestão da qualidade e validação de processos são um modelo para a indústria farmacêutica, tanto que a FDA a incorporou em suas regulamentações [9].

A Engenharia: O Arquiteto da Qualidade e da Validação

A Engenharia é a mente criativa e a mão construtora que materializa a visão de um produto seguro e eficaz. A Engenharia de Manutenção, em particular, é a guardiã da longevidade e do desempenho dos sistemas, garantindo que a infraestrutura e os equipamentos operem de forma contínua, eficiente e, crucialmente, dentro dos parâmetros validados.

Equipamentos e a Tríade da Qualificação (IQ, OQ, PQ)

Cada equipamento em uma linha de produção é um elo crítico na cadeia da qualidade. A qualificação de equipamentos é o processo que atesta sua aptidão para o uso pretendido [4], e é um excelente exemplo da integração necessária: 
  • Qualificação de Instalação (IQ): A Engenharia instala o equipamento, e a Validade verifica se a instalação está em conformidade com as especificações do fabricante e os requisitos regulatórios [14].
  • Qualificação Operacional (OQ): A Engenharia e a Qualidade definem os limites operacionais, e a Validação demonstra que o equipamento funciona dentro desses limites em todas as condições previstas [14].
  • Qualificação de Desempenho (PQ): A Engenharia otimiza o processo, a Qualidade monitora os resultados e a Validação confirma que o equipamento, operando com materiais específicos, produz consistentemente um produto que atende aos padrões de qualidade [14]. 
A calibração regular dos equipamentos, uma tarefa essencial da Engenharia de Manutenção, é o que garante a precisão das medições e a confiabilidade dos processos, sendo um pré-requisito para qualquer validação [15].

Salas Limpas, HVAC e Utilidades: O Ambiente Controlado

Em muitas dessas indústrias, o ambiente de produção é tão crítico quanto o próprio processo. As salas limpas, projetadas pela Engenharia, são ambientes meticulosamente controlados para minimizar a contaminação [4]. O sistema de HVAC (Heating, Ventilation, and Air Conditioning), também sob a alçada da Engenharia, é o coração que mantém a temperatura, umidade, pressão e filtragem do ar dentro de limites rigorosos, impactando diretamente a qualidade do produto e exigindo validação constante [4].
As utilidades, como a Água para Injetáveis (WFI), Água Purificada (PW), ar comprimido e vapor puro, são a alma de muitos processos. A Engenharia projeta e instala esses sistemas complexos, a Qualidade monitora sua pureza e a Validação garante que eles entreguem consistentemente a qualidade exigida, especialmente para produtos estéreis. A falha em qualquer um desses elos pode comprometer a integridade do produto final.

Qualidade e Validação: Os Pilares da Confiança


Se a Engenharia constrói, a Qualidade define o que deve ser construído e a Validação prova que foi bem construído. O departamento de Qualidade estabelece e mantém o Sistema de Gestão da Qualidade, enquanto a Validação fornece a evidência documentada de que processos, equipamentos e sistemas funcionam conforme o esperado. A integração com a Engenharia é vital para: 

  • Desenvolvimento de Processos: A Engenharia concebe, a Qualidade estabelece os requisitos de desempenho e a Validação verifica a capacidade do processo de entregar produtos consistentes.
  • Gestão de Riscos: A Engenharia identifica vulnerabilidades em equipamentos e instalações, a Qualidade avalia o impacto desses riscos no produto e a Validação implementa e verifica a eficácia das medidas de mitigação.
  • Melhoria Contínua: A análise de dados de desempenho de equipamentos (fornecidos pela Engenharia) e os resultados de validação alimentam o ciclo de melhoria contínua, impulsionando a inovação e a otimização de processos.

Harmonização e Resolução Ágil: O Poder da Colaboração

A verdadeira integração transcende a mera conformidade regulatória; ela fomenta uma cultura de colaboração. Em vez de silos competitivos, a Engenharia, Qualidade e Validação devem operar como um time coeso. A comunicação transparente e a compreensão mútua dos desafios de cada área são essenciais. Quando um desvio ou problema surge, a capacidade de resolvê-lo de forma rápida e objetiva depende diretamente dessa sinergia. Juntos, investigam a causa raiz, implementam Ações Corretivas e Preventivas (CAPA) e garantem que a solução seja não apenas eficaz, mas também duradoura, evitando reincidências.

Treinamento: O Combustível para a Integração

Nenhuma integração é completa sem o investimento no capital humano. O treinamento contínuo é o alicerce que capacita toda a equipe, desde a alta gerência até os operadores, a compreender e aplicar os princípios das BPF, as políticas de qualidade e os procedimentos de validação [4]. Treinamentos específicos para engenheiros sobre as nuances regulatórias, para o pessoal de qualidade sobre os aspectos técnicos dos equipamentos e para os validadores sobre a complexidade dos processos são cruciais. Isso garante que todos falem a mesma língua, compreendam o impacto de suas ações na qualidade e segurança do produto, e contribuam ativamente para a cultura de excelência.

Conclusão: Uma Visão Unificada para o Futuro

A total integração da Engenharia com Qualidade e Validação não é um luxo, mas uma necessidade estratégica para a sustentabilidade e o sucesso das indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética. Ao construir uma cultura onde a colaboração é a norma, a comunicação é fluida e o aprendizado é contínuo, essas indústrias não apenas atendem, mas superam as rigorosas expectativas regulatórias e do consumidor. A sinergia entre esses pilares é a chave mestra para a excelência operacional, a inovação responsável e, acima de tudo, a garantia de produtos seguros e de alta qualidade que beneficiam a sociedade. É uma sinfonia de excelência que ressoa em cada produto entregue, construindo confiança e um futuro mais seguro.

Elaborado por:

Filipe Daniel de Araújo

Coordenador de Projetos da Master Trade no Rio de Janeiro,

Profissional com mais de 20 anos no mercado de engenharia, tendo passado por grandes empresas como Bayer e Merck e participado de diversos projetos em tantas outras empresas no ramo farmacêutico.

Engenheiro mecânico com larga experiência e especialista em projetos e montagens de em sistemas de Osmose, WFI/PW, Vapor Puro, CIP/SIP, Gases especiais e Central de Utilidades.

Referências

[1] https://www.gov.br/anvisa/pt-br/english/regulation-of-products

[2] https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2024/anvisa-revisa-e-consolida-normas-das-areas-de-cosmeticos-e-saneantes

[3] https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2025/anvisa-apresenta-pontos-principais-da-rdc-954-2024-para-setor-regulado

[4] https://sindusfarma.org.br/uploads/files/8e1f-diego-silva/2022/Anvisa/RDC%20BPF%20-%20Anvisa/file.pdf

[5] https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/res0216_15_09_2004.html [6] https://vistosistemas.com.br/rdc-48-2013/

[7] https://www.fda.gov/files/drugs/published/Process-Validation--General-Principles-and-Practices.pdf

[8] https://www.ecfr.gov/current/title-21/chapter-I/subchapter-C/part-211

[9] https://www.fda.gov/medical-devices/quality-system-qs-regulationmedical-device-current-good-manufacturing-practices-cgmp/quality-management-system-regulation-final-rule-amending-quality-system-regulation-frequently-asked

[10] https://simplerqms.com/pharmaceutical-quality-management-system/

[11] https://www.registrarcorp.com/blog/cosmetics/iso-22716/gmp-for-cosmetics/

[12] https://www.iso.org/standard/35466.html

[13] https://www.iso.org/iso-13485-medical-devices.html

[14] https://www.ajolly.com.br/o-que-e-iq-oq-pq-etapas-da-validacao-de-equipamentos-e-sistemas/

[15] https://www.tecnocalibracao.com.br/calibracao-de-equipamentos-da-industria-alimenticia/


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Micro-organismos In-house

 


Hoje vou dar uma leve introdução ao assunto, que tem se tornado uma tendência cada vez mais atual.

São micro-organismos isolados em ambiente fabril, também conhecidos como micro-organismos “in house” ou “selvagens”;

É sempre importante identificar suficientemente os isolados ambientais, de forma que se possa ter um bom entendimento da microbiota observada no local. Isto irá possibilitar ao microbiologista detectar alterações no ambiente, sugerindo preocupação no processo de fabricação;

Essa identificação da microbiota em ambiente fabril permite detectar a presença de micro-organismos indesejáveis.

Investigação de Fontes

Pessoas – principal fonte de contaminação: Células humanas liberam constantemente partículas que carregam micro-organismos;

Matérias primas – fármacos, excipientes e material auxiliar para fabricação, água;

Equipamentos – tanques, linhas de transferência, bombas, misturadores e outros;

Ambientes – condições de estocagem, sistema de ar, materiais de embalagem, estrutura física do ambiente fabril.

Qual o Impacto no Processo de Fabricação

Afeta a estabilidade do produto;

Afeta testes analíticos;

Afeta o ingrediente ativo;

Produz odores, sabores, alteração de cor, textura ou metabólitos indesejáveis;

Potencial de crescer e exceder as especificações de monitoramento ambiental;

Formação de biofilme em sistemas de água;

Micro-organismos indesejáveis podem causar infecções. Não apenas patógenos óbvios, isolados ambientais representam risco.

Uso dos Isolados Ambientais

Validação de desinfetante: USP <1072>, <1116>;

Teste de Promoção do Crescimento: USP <61>, <62>, <71>, ISO 11133;

Validação de métodos de recuperação microbiana: USP <1227>;

Teste de adequação: USP <61>, <62>, <71>, FB 5.5.3.1.4;

Teste de eficácia antimicrobiana (Challenge Test): USP <51>, CTFA (atual PCPC);

Água para Fins Farmacêuticos: USP <1231>, FB 8.5 (Biofilmes);

Ambientes de processamento asséptico: USP <1116>, FB 8.1 (Media Fill e Monitoramento Ambiental);

Investigação de Resultados Fora de Especificação: Guia nº 8 ANVISA versão 2.

Esse Isolado é um MO Indesejável? 

O laboratório deve determinar se o organismo é indesejável:

Produtos estéreis vs. não estéreis;

Uso pretendido;

Público pretendido;

Via de administração prevista. 

Como isolar um micro-organismo in-house 

Através de monitoramento ambiental e testes microbiológicos, como a contagem, por exemplo 

Programa de Monitoramento Ambiental 

Tenha um programa robusto de monitoramento ambiental:

Avaliação de risco;

Planos de amostragem qualificados para locais específicos;

Definir limites de controle apropriados;

Use <1116> (USP), capítulo 8.1 (FB) como orientação em salas limpas.

Teste de sistema de água;

Teste de matérias-primas;

Determinar a microbiota local;

Identificar organismos suspeitos.

Importância do Monitoramento Ambiental

Fornece dados importantes a serem considerados em um processo de investigação de resultados fora de especificação;

Esses dados devem ser registrados, tabulados e compartilhados com todas as áreas envolvidas no processo, de modo a otimizar a investigação e tomada de ação corretiva;

Falhas no programa de monitoramento ocasionam liberação de produtos não-conformes, que por sua vez pode gerar um recall

Isolamento, Identificação e Manutenção

O isolamento é feito a partir de colônias encontradas em análises de rotina e monitoramento ambiental;

A identificação de micro-organismos é tradicionalmente baseada na morfologia de sua colônia, morfologia celular, coloração diferencial, requisitos para crescimento e perfil de utilização de carbono;

Uma vez identificado, o isolado precisa ser mantido sob as mesmas condições das cepas de referência, para uso na rotina do laboratório.

Cuidados Gerais à Serem Tomados

Isolar o micro-organismo em condições assépticas;

Utilizar métodos confiáveis para identificação correta;

Os micro-organismos devem ser mantidos em meios não seletivos;

Indica-se a armazenagem de bactérias aeróbias em temperaturas entre 2-8ºC e bolores e leveduras devem ser armazenados em temperatura ambiente;

Os repiques ou passagens significam que os micro-organismos estão sendo transferidos de um meio para outro;

Micro-organismos usados em teste baseado na farmacopeia, não devem ter mais do que 5 passagens a partir da cultura de referência;

Indica-se o armazenamento de cepas que requerem CO2, à temperatura ambiente em jarras de anaerobiose com gerador.

Problemas com Isolados Ambientais

Uma vez que um isolado ambiental é cultivado, ele perde sua característica "selvagem“;

Manter o organismo dentro de 5 passagens; 

Preparação da suspensão, se for necessária uma concentração específica; 

Pode perder a concentração desejada - você não saberá até a conclusão do teste; 

Pode ser necessário refrigerar a suspensão por vários dias;

Podem ocorrer mutações.

Existem empresas que prestam serviços de identificação, liofilização, preservação e quantificação dessas cepas, como cepas de referência, é uma alternativa segura de garantir a qualidade da mesma, além de manter a rastreabilidade.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Meios Cromogênicos para Detecção de Coliformes Totais e Termotolerantes em Água

Indicação de uso

São meios de cultura contendo na sua formulação substratos enzimáticos específicos que possibilitam melhorias significativas na recuperação dos micro-organismos e na identificação dos mesmos, para análise em amostras de água potável, água bruta, água superficial, água subterrânea, água de reuso, água para uso farmacêutico, água purificada em geral, água engarrafada e efluentes, sem necessidade de reagentes adicionais para confirmação. A Farmacopeia Brasileira cita o uso e a Farmacopeia Americana cita como método o Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater, que por sua vez também cita o uso, mais precisamente do Colilert®, em que vou me basear para este artigo. Existem outras marcas, mas aqueles que forem auditados pelo INMETRO, recomenda-se o uso do Colilert®. Este pode ser usado para teste de ausência ou presença ou para teste quantitativo.

Princípio do Método

O teste Colilert® usa a exclusiva Tecnologia do Substrato Definido - Defined Substrate Technology (DST) para detectar simultaneamente coliformes totais e E. coli. Dois indicadores nutrientes, ONPG e MUG, são as principais fontes de carbono no Colilert e podem ser metabolizados pela enzima dos coliformes β-galactosidase, e pela enzima da E. coli β-glucuronidase, respectivamente.

À medida que os coliformes crescem no teste Colilert, eles usam β-galactosidase para metabolizar ONPG e mudam sua cor de incolor para amarelo. 

E. coli usa β-glucuronidase para metabolizar MUG e criar fluorescência. Tendo em conta que a maioria dos não coliformes não tem estas enzimas, eles são incapazes de crescer e interferir. Os poucos não coliformes que têm estas enzimas são seletivamente suprimidos pela matriz especificamente formulada do teste Colilert®. A presença da E. coli pode ser confirmada por fluorescência sob a luz UV, devido sua atuação sobre o substrato MUG.

Esta abordagem é diferente dos meios tradicionais, que proporcionam um ambiente rico em nutrientes que favorecem o crescimento de organismos classificados como alvo e não alvo. Quando os organismos não alvo crescem e imitam os organismos classificados como alvo, ocorrem falso positivos. O crescimento de organismos não alvo também pode suprimir os organismos alvo e originar falso negativos nos meios tradicionais. Para suprimir organismos não alvo, os meios tradicionais incluem frequentemente elevados níveis de sais, detergentes ou outros agentes seletivos que podem inadvertidamente suprimir os organismos alvo e originar falso negativos.

O sistema de reagente foi concebido para suprimir bactérias não coliformes positivas para ONPG ou MUG por pelo menos 28 horas. Se a incubação ultrapassar as 28 horas, é possível que essas bactérias ultrapassem o sistema de supressão do teste Colilert® e reajam com ONPG ou MUG. Quando a incubação excede as 28 horas, apenas são válidos os resultados negativos. Os resultados positivos devem ser confirmados usando métodos tradicionais.

Leitura de Resultados

·         Incolor = negativo

·         Amarelo = coliformes totais

·         Amarelo/fluorescente = E. coli


No link abaixo pode-se acessar um vídeo explicando o uso:

https://www.google.com.br/search?q=Colilert+Manual+pdf&sca_esv=87faeafcc4202842&sxsrf=ADLYWILzgzdotimY5wNQTyrL_Xc4K7e1qA:1723505101697&ei=zZm6ZqCcKq7Y1sQP1ZTlgQE&start=10&sa=N&sstk=AagrsuizwaI2c2mE_nPr3vzHWWvEmoCKfa3M6D12i6EpmPs0bYpirSIICpIanxG5-DCuZvtw0fShWlhXz2vIS5HeVJM8lbPgWM1hkA&ved=2ahUKEwjgtuvqzPCHAxUurJUCHVVKORAQ8tMDegQIPhAE&biw=1360&bih=599&dpr=1#fpstate=ive&vld=cid:2b127b64,vid:Qwf3zf8RPLI,st:0

Fontes:

United States Pharmacopeia 43ª ed. 2020

Farmacopeia Brasileia 6ª ed. 2024

Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 23ª ed.

https://www.idexx.com.br/pt-br/water/water-products-services/colilert/ acessado em 12/08/2024

sábado, 6 de janeiro de 2024

PCA Agar (Plate Count Agar)

 


Indicação de uso 

O Ágar PCA (Plate Count Agar) ou Ágar Contagem de Placas é usado ​​para obter contagens de placas microbianas de leite e produtos lácteos, alimentos, água e outros materiais de importância sanitária. O ágar PCA é recomendado em métodos padrão para contagem pela técnica de pour plate, spread plate e filtração de membrana para contagem de bactérias heterotróficas em placas. É o meio indicado no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, citado na farmacopeia americana e farmacopeia brasileira como opção de ágar para contagem em água. Ele é recomendado para obter contagens de placas em amostras de leite e outros produtos lácteos e também pode ser usado para determinar a qualidade sanitária de alimentos, água e outros materiais.

 Formulação e Preparo

 Fórmula Aproximada Por Litro

  • Peptona de caseína - 5,0 g
  • Extrato de levedura - 2,5 g
  • Glicose ou dextrose - 1,0 g
  • Ágar - 15,0 g

A peptona de caseína fornece os aminoácidos e outras substâncias nitrogenadas complexas necessárias para sustentar o crescimento de bactérias. O extrato de levedura fornece principalmente vitaminas do complexo B e a glicose ou dextrose é uma fonte de energia. Agar é o agente solidificante.

pH 7,0 ± 0,1. Esterilizar em autoclave usando ciclo validado.

O preparo do meio deve seguir as instruções do fabricante.

O Ágar PCA tem alta concentração de nutrientes, sendo adequados para isolamento geral e enumeração de bactérias heterotróficas ou copiotróficas (bactérias que consomem grande quantidades de carbono). A temperatura e tempo de incubação são aspectos críticos para os testes microbiológicos da água, devido aos tipos de micro-organismos encontrados nos sistemas de água. Incubações a baixas temperaturas (por exemplo, de 20 °C a 25 °C ou de 25 °C a 30 °C) por períodos mais longos, por pelo menos quatro dias, podem levar a recuperações mais altas de micro-organismos, do que as temperaturas clássicas. Os meios com baixa quantidade de nutrientes requerem períodos de incubação mais longos (pelo menos cinco dias), pois esses meios promovem crescimento mais lento. Mesmo aqueles com alta concentração de nutrientes podem algumas vezes resultar em alta recuperação microbiana por longos períodos de incubação e temperaturas mais baixas. A decisão sobre o tipo de meio de cultura e a temperatura de incubação para se testar um sistema de purificação de água deve ser baseada em estudos comparativos de cultivo usando um microbioma nativo dos sistemas de purificação da água em análise.

Micro-organismos Indicados para o Teste de Grow Promotion

Para verificar a esterilidade dos meios de cultura, colocá-los em incubação por, no mínimo, 72 horas, na temperatura adequada. Não deve haver crescimento microbiano ou alteração de cor.

As farmacopeias não apresentam as cepas para Grow Promotion, nesse caso pode-se utilizar os micro-organismos indicados no certificado do fabricante:

Para promoção de crescimento

Staphylococcus aureus ATCC 25923                

Bacillus subtilis ATCC 6633                

Escherichia coli ATCC 25922

Outros micro-organismos podem ser inoculados, de acordo com a metodologia usada.  

Inocule no meio pequeno número (não mais de 100 UFC) do micro-organismo teste. Incubar na temperatura e tempo especificados no ensaio de pesquisa do micro-organismo de interesse.

Realizar GP em cada novo lote de meio de cultura adquirido pronto para uso ou preparado no laboratório, em paralelo com um meio de cultura previamente aprovado.

Os micro-organismos devem ser rastreáveis de uma Cultura de Coleção de Referência e devem estar em não mais do que 5 passagens da Cultura de Referência. Compare o crescimento no novo meio de cultura com o crescimento no meio previamente aprovado. O crescimento deve ser “comparável”. Não existe na USP a definição de quantidade do que é “comparável” Em paralelo realizar o controle do inóculo em ágar não seletivo: deve haver ≤ 100 UFC. E se não houver lote previamente aprovado? Considere adicionar outros Analistas do Laboratório. Use um número significativo de replicatas. A média das médias pode ser considerada como ponto de referência. Essas recomendações servem para a promoção de crescimento de qualquer meio.

Fontes:

United States Pharmacopeia 43ª ed. 2020

Difco & BBL Manual - Manual of Microbiological Culture Media – Second Edition

Farmacopeia Brasileia 6ª ed. 2024

Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 23ª ed.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

R2A ágar

 


Indicação de uso

O Ágar R2A foi desenvolvido por Reasoner e Geldreich para contagens bacteriológicas em placas de água potável tratada. Um meio com composição de baixo nutrientes, como R2A Agar, em combinação com uma menor temperatura e maior tempo de incubação estimulam o crescimento de bactérias estressadas e tolerantes ao cloro. Meios nutricionalmente ricos, como Plate Count Agar (PCA), apoiam o crescimento de bactérias de crescimento rápido, mas podem suprimir bactérias de crescimento lento ou estressadas encontradas em água. Quando o R2A é comparado com meios nutricionalmente ricos, foi relatado que este meio melhora a recuperação de bactérias estressadas e bactérias tolerantes ao cloro de sistemas de água potável. O ágar R2A é recomendado em métodos padrão para contagem pela técnica de pour plate, spread plate e filtração de membrana para contagem de bactérias heterotróficas em placas. É o meio indicado no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, citado na farmacopeia americana e farmacopeia brasileira como opção de ágar para contagem em água.

Formulação e Preparo

Fórmula Aproximada Por Litro

  • Peptona (caseína ou tecido animal) - 0,5 g
  • Ácido Casamino - 0,5g
  • Extrato de Levedura - 0,5g
  • Piruvato de Sódio - 0,3g
  • Glicose (dextrose) - 0,5 g
  • Sulfato de Magnésio heptahidratado - 0,05 g
  • Amido solúvel - 0,5g
  • Fosfato de Hidrogênio Dipotássico - 0,3 g
  • Ágar - 15,0 g

O extrato de levedura fornece uma fonte de oligoelementos e vitaminas.

Peptona e o ácido casamino fornecem nitrogênio, vitaminas, aminoácidos ácidos, carbono e minerais. A glicose ou dextrose serve como fonte de carbono.

O amido solúvel auxilia na recuperação de organismos injuriados, absorvendo subprodutos metabólicos tóxicos. Piruvato de sódio aumenta a recuperação de células estressadas. O fosfato de potássio é usado para equilibrar o pH e fornecer fosfato. O sulfato de magnésio é uma fonte de cátions divalentes e sulfato. Agar é o agente solidificante

pH 7,2 ± 0,1. Esterilizar em autoclave usando ciclo validado.

O preparo do meio deve seguir as instruções do fabricante.

Limitações do Procedimento

O Ágar R2A destina-se a ser utilizado apenas com água potável tratada uma vez que é recomendado para bactérias comprometidas.

O uso do método de pour plate é desencorajado porque recuperação de bactérias estressadas pode ser comprometida pelo choque térmico (44-46°C) e baixa tensão de oxigênio que fazem parte do procedimento.

Pode ser necessário um tempo de incubação superior ao indicado para recuperar bactérias adicionais de crescimento lento.

O Ágar R2A tem melhor desempenho com a técnica de espalhamento em placa; no entanto, esse procedimento é limitado a um pequeno volume de amostra.

Bactérias de crescimento rápido podem produzir colônias menores no R2A Agar do que em meios nutricionalmente ricos.

O Ágar R2A é um meio com baixo teor de nutrientes destinado ao cultivo micro-organismos comprometidos. Bom crescimento do padrão, organismos de controle saudáveis ​​não reflete necessariamente a capacidade do meio de recuperar organismos estressados. Cada novo lote de meio deve ser testado em termos de desempenho contra um lote anterior de ágar R2A usando água potável.

Micro-organismos Indicados para o Teste de Grow Promotion

Para verificar a esterilidade dos meios de cultura, colocá-los em incubação por, no mínimo, 72 horas, na temperatura adequada. Não deve haver crescimento microbiano ou alteração de cor.

As farmacopeias não apresentam as cepas para Grow Promotion, nesse caso pode-se utilizar os micro-organismos indicados no certificado do fabricante:

Para promoção de crescimento

Enterococcus faecalis ATCC 29212

Escherichia coli ATCC 25922

Pseudomonas aerginosa ATCC 27853

Staphylococcus aureus ATCC 25923

Outros micro-organismos podem ser inoculados, de acordo com a metodologia usada.  

Inocule no meio pequeno número (não mais de 100 UFC) do micro-organismo teste. Incubar na temperatura e tempo especificados no ensaio de pesquisa do micro-organismo de interesse.

Realizar GP em cada novo lote de meio de cultura adquirido pronto para uso ou preparado no laboratório, em paralelo com um meio de cultura previamente aprovado.

Os micro-organismos devem ser rastreáveis de uma Cultura de Coleção de Referência e devem estar em não mais do que 5 passagens da Cultura de Referência. Compare o crescimento no novo meio de cultura com o crescimento no meio previamente aprovado. O crescimento deve ser "comparável“. Não existe na USP a definição de quantidade do que é “comparável” Em paralelo realizar o controle do inóculo em ágar não seletivo: deve haver ≤ 100 UFC. E se não houver lote previamente aprovado? Considere adicionar outros Analistas do Laboratório. Use um número significativo de replicatas. A média das médias pode ser considerada como ponto de referência. Essas recomendações servem para a promoção de crescimento de qualquer meio.

Fontes:

United States Pharmacopeia 43ª ed. 2020

Difco & BBL Manual - Manual of Microbiological Culture Media – Second Edition

Farmacopeia Brasileia 6ª ed. 2019

Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 23ª ed.

sábado, 17 de setembro de 2022

Qual a importância de Controle de Qualidade?


Recentemente vimos caso de petiscos contaminados com uma substância que levou à óbito alguns animais e deixou vários doentes. Para mim houve claramente uma falha no controle de qualidade. Na investigação, viu-se que a contaminação veio de uma matéria prima. Obviamente não houve um controle.

Isso me fez lembrar o caso do laboratório Enila, que fabricava um contrate usado em ressonância magnética.

Em 2003, o Enila fez experiências químicas para transformar carbonato de bário em sulfato de bário - princípio ativo do Celobar, importado da Alemanha -, sem ter o registro necessário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O carbonato de bário é usado como veneno de rato e impróprio para uso humano.

Em maio, o setor de farmácia do Enila encontrou colônias de bactéria próximo ao limite recomendado no lote nº 3040068 e determinou que os 4.500 frascos não fossem comercializados até novo teste. Quando o exame conclusivo apontou para contaminação, os medicamentos já haviam sido distribuídos para todo o País. De acordo com a ação, o químico autorizou a venda do medicamento.

Durante as inspeções no laboratório, a vigilância verificou que o Enila estocou indevidamente grande quantidade de carbonato de bário, além de estar realizando experiências na tentativa de transformá-lo em sulfato de bário, o que pode ter provocado a contaminação. O sulfato, ao ser ingerido, é totalmente eliminado pelo organismo humano, enquanto o carbonato é absorvido e provoca intoxicação.

Pessoas vieram à óbito após usar o contraste. Outra clara negligência do controle de qualidade.

O caso das “pílulas de farinha” aconteceu em 1998 e foi resultado da fabricação do anticoncepcional Microvlar como teste em uma máquina embaladora do laboratório – 600 mil comprimidos chegaram indevidamente ao mercado. Dezenas de mulheres engravidaram indesejadamente. Várias falhas ocorreram na cadeia de controle.

Esses três casos ilustram a importância do nosso trabalho. Temos que ter a consciência de que da nossa atividade, tanto em testes laboratoriais, quanto operacional e documental, depende a saúde e a vida de pessoas e animais. Nossa responsabilidade é colossal. Então é obrigação nossa cumprir as tarefas com esmero e acompanharmos a evolução da nossa área, sempre nos mantermos atualizados, nunca acomodados. E cabe as empresas contratarem profissionais suficientes, equipar laboratórios devidamente, investir em cursos de atualização. Acho até um acinte querer economizar nessa área. Isso pode custar a reputação da empresa. Eu mesma já presenciei situações que considero inaceitável e em conversas com colegas vejo que muito se peca em nome de resultados com baixos custos.

Escrevo esse texto convidando os colegas a uma reflexão: a imensa responsabilidade e importância do nosso trabalho. Façam o seu melhor, defendam seu conhecimento, pois no frigir dos ovos, a culpa de erros como citei caem sobre nossos ombros.

Fonte:

https://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL978213-5598,00-PRESIDENTE+DE+LABORATORIO+PEGA+ANOS+NO+CASO+CELOBAR.html acessado em 11/09/22

https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2003-07-11/anvisa-cassa-licenca-e-registros-do-laboratorio-enila acessado em 11/09/22

https://www.conjur.com.br/2008-dez-16/schering_indenizar_vender_pilula_farinha acessado em 11/09/22


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Vamos falar sobre Farmacopeia?


 Hoje resolvi falar um pouco sobre Farmacopeia

Participo de vários grupos no Whatsapp sobre Microbiologia e Controle de qualidade. E tenho percebido uma certa dificuldade e até uma certa comodidade principalmente de analistas em inicio de carreira em encontrar algumas informações. Vira e mexe eu cito algum capitulo da farmacopeia. De forma a instigar a pessoa a ler.

Entendam esse texto como uma crítica construtiva. Quando eu atuava, não existia essa facilidade em trocar mensagens (nem existia Whatsapp) e era difícil achar informações em buscadores, Eu aprendi a usar farmacopeia com a Britânica, na mesa do meu diretor na época. Um cliente queria saber parâmetros e meu diretor disse: procura aí e gaste o tempo que for preciso. Era a primeira vez que eu manuseava uma farmacopeia. Desde então virou minha “Bíblia”. E eu tinha acesso à Farmacopeia Britânica, Europeia, Brasileira, Portuguesa e a Americana (USP). Como eu prestava serviços, padronizávamos os métodos segundo a USP. Não só para produtos farmacêuticos, mas também para cosméticos, descartáveis, veterinários, água etc.

A Farmacopeia não precisa ficar restrita à área farmacêutica, pode ser usada em outras áreas também, como indústria cosmética, descartáveis, veterinária etc. Você tem duvida sobre, monitoramento, validação, ensaios, sanitização, processos? Pois a farmacopeia tem algo a lhe dizer. Não tem acesso à farmacopeia americana? A Brasileira está disponível gratuitamente no site da Anvisa pelo link https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira.

Basicamente as farmacopeias dividem-se em monografias, que traz todas as informações importantes sobre os insumos e os capítulos gerais que descrevem os métodos e dão informações gerais como processos.

A Farmacopeia Americana não tem mais versão física. A Brasileira está em pdf.

Vamos á alguns conceitos:

1. O que é a Farmacopeia Brasileira?

A Farmacopeia Brasileira é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. Tem por finalidade promover a saúde da população, estabelecendo requisitos de qualidade e segurança dos insumos para a saúde, especialmente dos medicamentos, apoiando as ações de regulação sanitária e induzindo ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

2. Como é elaborada a Farmacopeia Brasileira?

A Farmacopeia Brasileira é uma entidade particular?

Qual a relação entre a Farmacopeia Brasileira e a Anvisa?

É elaborada por meio de projetos de pesquisa, em parceria com universidades credenciadas. Posteriormente, a Comissão da Farmacopeia Brasileira (CFB), nomeada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), homologa os trabalhos desenvolvidos. A publicação se dá por meio de RDC, que oficializa a Farmacopeia para uso no território brasileiro. A publicação, a revisão e a atualização são, por força de obrigações regimentais, função da Anvisa.

3. Qual a finalidade da Farmacopeia?

Promover a saúde da população, por meio do estabelecimento de requisitos de qualidade e segurança para fármacos, drogas vegetais, insumos, medicamentos e produtos para saúde, e assim apoiar as ações de vigilância sanitária e induzir o desenvolvimento científico e tecnológico nacional.

4. Quais são as atividades da Farmacopeia Brasileira?

Além da elaboração e atualização de métodos e monografias do compêndio oficial, a farmacopeia se dedica também à produção e certificação de substâncias químicas de referência (SQR) e padrões, elaboração de formulários nacionais, apoio e incentivo à formação e aperfeiçoamento de recursos humanos na área de controle de qualidade, apoio à pesquisa científica e tecnológica, aprovação e publicação das Denominações Comuns Brasileiras (DCB), dentre outras.

5. O que são os Comitês Técnicos Temáticos (CTT)?

São grupos de profissionais renomados e com experiência em áreas específicas do conhecimento, que desenvolvem trabalhos de interesse sanitário para serem incluídos na Farmacopeia Brasileira e para apoiar as ações sanitárias da Anvisa. Conheça os Comitês Técnicos Temáticos das Farmacopeia Brasileira:

CTT de Apoio à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - APP

CTT de Produtos Biológicos - BIO

CTT Correlatos de Medicamentos - COR

CTT Denominações Comuns Brasileiras - DCB

CTT de Equivalência Farmacêutica e Bioequivalência de Medicamentos - EQB

CTT de Especialidades Farmacêuticas - ESP

CTT de Excipientes e Adjuvantes - EXA

CTT Farmacognosia - FCG

CTT de Gases Medicinais - GAS

CTT de Produtos Hemoderivados - HEM

CTT de Homeopatia - HOM

CTT de Ingredientes Farmacêuticos Ativos - IFA

CTT de Medicamentos Magistrais e Oficinais - MAG

CTT de Microbiologia - MCB

CTT de Radiofármacos - RAD

CTT de Substâncias Químicas de Referência - SQR

6. Desde quando o Brasil possui uma Farmacopeia? (Histórico)

O primeiro código do Brasil colônia foi a Farmacopeia Geral para o Reino e os Domínios de Portugal, sancionada em 1794 e obrigatória em nosso país a partir de 1809. Após a independência foram utilizados, além desta, o Codex Medicamentarius Gallicus francês e o Código Farmacêutico Lusitano, hoje considerado como a 2ª edição da Farmacopeia Portuguesa.

Mais tarde, o Decreto n° 8.387 de 19/01/1882 estabeleceu que “para o preparo dos medicamentos oficiais seguir-se-á a Farmacopeia Francesa, até que seja composta uma farmacopeia brasileira.....”

Em 1926, as autoridades sanitárias do País aprovaram a proposta de um Código Farmacêutico Brasileiro, apresentada pelo Farmacêutico e Professor de Farmácia Rodolpho Albino Dias da Silva. Aprovado pelas autoridades sanitárias da época, esse Código foi oficializado em 1929 e tornou-se a primeira edição da Farmacopeia Brasileira. Obra de um único autor, a primeira edição da Farmacopeia Brasileira equiparava-se às Farmacopeias dos países tecnologicamente desenvolvidos, porém diferenciava-se das demais por conter descrições de mais de 200 plantas medicinais, a maioria delas de origem brasileira.

A segunda edição da Farmacopeia Brasileira foi publicada em 1959 (Decreto Federal nº 45.502 de 27/02/1959) e a terceira edição saiu em 1976 (Decreto nº 78840 de 25/06/1976). Publicada em 1988 (Decreto 96.607 de 30/08/1988), a quarta edição foi atualizada por vários fascículos até 2005.

Até 2010 as quatro edições da Farmacopeia Brasileira continuavam em vigor. A Quinta Edição, lançada em dezembro de 2010, revogou todas as edições anteriores e busca fazer a atualização e revisão de todos os métodos e monografias publicados até então.

7. Onde se localiza a sede administrativa da Farmacopeia Brasileira?

A Coordenação da Farmacopeia Brasileira – COFAR está localizada na Anvisa, em Brasília. O endereço para contato é: SIA Trecho 5, Área Especial 57, Bloco E, 1º andar, sala 4 – CEP: 71205-050 – Brasília – DF. O contato pode também ser feito por e-mail: farmacopeia@anvisa.gov.br.

8. A Farmacopeia Brasileira possui laboratório próprio?

A Farmacopeia Brasileira, até o momento, não possui laboratório próprio. Seus trabalhos de pesquisa, elaboração de monografias, ensaios laboratoriais, validação e certificação de produtos são realizados por universidades credenciadas e por órgãos oficiais de controle de qualidade de medicamentos.

9. Todo o país é obrigado a ter a sua própria farmacopeia ou pode adotar a farmacopeia de outro país?

Não há obrigatoriedade de possuir uma Farmacopeia, Qualquer país pode elaborar sua própria farmacopeia ou adotar a de outros países como oficial. Entretanto, como a Farmacopeia reflete o avanço da ciência e da tecnologia de um país, a existência de uma farmacopeia nacional pode ser considerada como um assunto de segurança nacional, por assegurar a qualidade de insumos para fins farmacêuticos importados ou medicamentos em uso no país.

Na ausência de monografia oficial de matéria-prima, formas farmacêuticas, correlatos e métodos gerais inscritos na Farmacopeia Brasileira, poderá ser adotada monografia oficial, última edição, de um dos seguintes compêndios internacionais:

Farmacopeia Alemã

Farmacopeia Americana

Farmacopeia Argentina

Farmacopeia Britânica

Farmacopeia Europeia

Farmacopeia Francesa

Farmacopeia Internacional (OMS)

Farmacopeia Japonesa

Farmacopeia Mexicana

Farmacopeia Portuguesa

Veja, na íntegra, a Resolução (RDC 37/2009) que dispõe sobre as Farmacopeias reconhecidas pela Anvisa.

10. A Farmacopeia Brasileira segue os padrões das farmacopeias internacionais ou tem normativa própria?

A Farmacopeia se insere, rigidamente, nos padrões internacionais, porém, procura soluções coerentes com o desenvolvimento tecnológico de nosso país, como, por exemplo, o estabelecimento de métodos alternativos de análises.

11. As farmácias são obrigadas a ter a Farmacopeia Brasileira? Por quê?

O Decreto nº 96.607, de 30 de agosto de 1988, determina que as drogarias e farmácias são obrigadas a manter exemplar atualizado da Farmacopeia Brasileira. Há diversas razões para isso, mas o principal é a segurança do consumidor, nos casos em que se necessite de informações quanto à identificação e característica de um medicamento.

Conforme o artigo 4º do mesmo Decreto, além das drogarias e farmácias são obrigados a manter exemplar atualizado da Farmacopeia Brasileira, os estabelecimentos de ensino de Medicina, Farmácia, Odontologia e Veterinária, os órgãos de fiscalização e controle de qualidade de medicamentos, os laboratórios industriais e os estabelecimentos congêneres.

Os estabelecimentos farmacêuticos, médicos, de odontologia e veterinários, incluindo o setor de ensino, devem dispor de exemplares para consulta, sem obrigatoriedade.

Entretanto, com o lançamento virtual da FB5, as informações poderão ser acessadas a todo o momento, desde que tenha internet.

12. Como faço para obter a quinta edição da Farmacopeia Brasileira?

A quinta edição está disponível na página da Anvisa, com acesso gratuito. A obra impressa será comercializada pela Editora da Fiocruz.

13. Utilizo monografia constante em edição anterior da Farmacopeia Brasileira, mas que não foi publicada na FB 5. Posso continuar utilizando as edições anteriores?

As edições anteriores da FB foram revogadas pela RDC 49/2010. Caso não encontre uma determinada monografia específica na FB 5, utilizar os outros compêndios reconhecidos pela Anvisa, relacionados na RDC 37/2009.

Não tenha medo de consultar uma Farmacopeia. Crie o hábito de ler. Um bizu: se você tiver uma farmacopeia em pdf pressione ctrl f e digite um termo que esteja relacionado ao assunto que você procura; fica bem mais fácil de encontrar.

É claro que as farmacopeias não contemplam todas as áreas. Mas a Anvisa possui uma área chamada de Bibliotecas temáticas: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/regulamentacao/legislacao/bibliotecas-tematicas, que contem uma compilação das legislações de várias áreas. Você não precisa entender de tudo, mas conhecer sua área de atuação é importante.

Boa leitura!

Bibliografia:

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/perguntasfrequentes/farmacopeia/farmacopeia-1 consultado em 09/12/2020