Hoje
resolvi falar um pouco sobre Farmacopeia
Participo
de vários grupos no Whatsapp sobre Microbiologia e Controle de qualidade. E
tenho percebido uma certa dificuldade e até uma certa comodidade principalmente
de analistas em inicio de carreira em encontrar algumas informações. Vira e
mexe eu cito algum capitulo da farmacopeia. De forma a instigar a pessoa a ler.
Entendam
esse texto como uma crítica construtiva. Quando eu atuava, não existia essa
facilidade em trocar mensagens (nem existia Whatsapp) e era difícil achar
informações em buscadores, Eu aprendi a usar farmacopeia com a Britânica, na
mesa do meu diretor na época. Um cliente queria saber parâmetros e meu diretor
disse: procura aí e gaste o tempo que for preciso. Era a primeira vez que eu
manuseava uma farmacopeia. Desde então virou minha “Bíblia”. E eu tinha acesso
à Farmacopeia Britânica, Europeia, Brasileira, Portuguesa e a Americana (USP).
Como eu prestava serviços, padronizávamos os métodos segundo a USP. Não só para
produtos farmacêuticos, mas também para cosméticos, descartáveis, veterinários,
água etc.
A
Farmacopeia não precisa ficar restrita à área farmacêutica, pode ser usada em
outras áreas também, como indústria cosmética, descartáveis, veterinária etc. Você
tem duvida sobre, monitoramento, validação, ensaios, sanitização, processos?
Pois a farmacopeia tem algo a lhe dizer. Não tem acesso à farmacopeia
americana? A Brasileira está disponível gratuitamente no site da Anvisa pelo
link https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/farmacopeia-brasileira.
Basicamente
as farmacopeias dividem-se em monografias, que traz todas as informações
importantes sobre os insumos e os capítulos gerais que descrevem os métodos e
dão informações gerais como processos.
A
Farmacopeia Americana não tem mais versão física. A Brasileira está em pdf.
Vamos
á alguns conceitos:
1.
O que é a Farmacopeia Brasileira?
A
Farmacopeia Brasileira é o Código Oficial Farmacêutico do País, onde se
estabelecem, dentre outras coisas, os requisitos mínimos de qualidade para
fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. Tem
por finalidade promover a saúde da população, estabelecendo requisitos de
qualidade e segurança dos insumos para a saúde, especialmente dos medicamentos,
apoiando as ações de regulação sanitária e induzindo ao desenvolvimento científico
e tecnológico nacional.
2.
Como é elaborada a Farmacopeia Brasileira?
A
Farmacopeia Brasileira é uma entidade particular?
Qual
a relação entre a Farmacopeia Brasileira e a Anvisa?
É
elaborada por meio de projetos de pesquisa, em parceria com universidades
credenciadas. Posteriormente, a Comissão da Farmacopeia Brasileira (CFB),
nomeada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), homologa os
trabalhos desenvolvidos. A publicação se dá por meio de RDC, que oficializa a
Farmacopeia para uso no território brasileiro. A publicação, a revisão e a
atualização são, por força de obrigações regimentais, função da Anvisa.
3.
Qual a finalidade da Farmacopeia?
Promover
a saúde da população, por meio do estabelecimento de requisitos de qualidade e segurança
para fármacos, drogas vegetais, insumos, medicamentos e produtos para saúde, e
assim apoiar as ações de vigilância sanitária e induzir o desenvolvimento
científico e tecnológico nacional.
4.
Quais são as atividades da Farmacopeia Brasileira?
Além
da elaboração e atualização de métodos e monografias do compêndio oficial, a
farmacopeia se dedica também à produção e certificação de substâncias químicas
de referência (SQR) e padrões, elaboração de formulários nacionais, apoio e
incentivo à formação e aperfeiçoamento de recursos humanos na área de controle
de qualidade, apoio à pesquisa científica e tecnológica, aprovação e publicação
das Denominações Comuns Brasileiras (DCB), dentre outras.
5.
O que são os Comitês Técnicos Temáticos (CTT)?
São
grupos de profissionais renomados e com experiência em áreas específicas do
conhecimento, que desenvolvem trabalhos de interesse sanitário para serem
incluídos na Farmacopeia Brasileira e para apoiar as ações sanitárias da
Anvisa. Conheça os Comitês Técnicos Temáticos das Farmacopeia Brasileira:
CTT
de Apoio à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - APP
CTT
de Produtos Biológicos - BIO
CTT
Correlatos de Medicamentos - COR
CTT
Denominações Comuns Brasileiras - DCB
CTT
de Equivalência Farmacêutica e Bioequivalência de Medicamentos - EQB
CTT
de Especialidades Farmacêuticas - ESP
CTT
de Excipientes e Adjuvantes - EXA
CTT
Farmacognosia - FCG
CTT
de Gases Medicinais - GAS
CTT
de Produtos Hemoderivados - HEM
CTT
de Homeopatia - HOM
CTT
de Ingredientes Farmacêuticos Ativos - IFA
CTT
de Medicamentos Magistrais e Oficinais - MAG
CTT
de Microbiologia - MCB
CTT
de Radiofármacos - RAD
CTT
de Substâncias Químicas de Referência - SQR
6.
Desde quando o Brasil possui uma Farmacopeia? (Histórico)
O
primeiro código do Brasil colônia foi a Farmacopeia Geral para o Reino e os
Domínios de Portugal, sancionada em 1794 e obrigatória em nosso país a partir
de 1809. Após a independência foram utilizados, além desta, o Codex
Medicamentarius Gallicus francês e o Código Farmacêutico Lusitano, hoje
considerado como a 2ª edição da Farmacopeia Portuguesa.
Mais
tarde, o Decreto n° 8.387 de 19/01/1882 estabeleceu que “para o preparo dos
medicamentos oficiais seguir-se-á a Farmacopeia Francesa, até que seja composta
uma farmacopeia brasileira.....”
Em
1926, as autoridades sanitárias do País aprovaram a proposta de um Código
Farmacêutico Brasileiro, apresentada pelo Farmacêutico e Professor de Farmácia
Rodolpho Albino Dias da Silva. Aprovado pelas autoridades sanitárias da época,
esse Código foi oficializado em 1929 e tornou-se a primeira edição da
Farmacopeia Brasileira. Obra de um único autor, a primeira edição da
Farmacopeia Brasileira equiparava-se às Farmacopeias dos países
tecnologicamente desenvolvidos, porém diferenciava-se das demais por conter
descrições de mais de 200 plantas medicinais, a maioria delas de origem
brasileira.
A
segunda edição da Farmacopeia Brasileira foi publicada em 1959 (Decreto Federal
nº 45.502 de 27/02/1959) e a terceira edição saiu em 1976 (Decreto nº 78840 de
25/06/1976). Publicada em 1988 (Decreto 96.607 de 30/08/1988), a quarta edição
foi atualizada por vários fascículos até 2005.
Até
2010 as quatro edições da Farmacopeia Brasileira continuavam em vigor. A Quinta
Edição, lançada em dezembro de 2010, revogou todas as edições anteriores e
busca fazer a atualização e revisão de todos os métodos e monografias
publicados até então.
7.
Onde se localiza a sede administrativa da Farmacopeia Brasileira?
A
Coordenação da Farmacopeia Brasileira – COFAR está localizada na Anvisa, em
Brasília. O endereço para contato é: SIA Trecho 5, Área Especial 57, Bloco E,
1º andar, sala 4 – CEP: 71205-050 – Brasília – DF. O contato pode também ser
feito por e-mail: farmacopeia@anvisa.gov.br.
8.
A Farmacopeia Brasileira possui laboratório próprio?
A
Farmacopeia Brasileira, até o momento, não possui laboratório próprio. Seus
trabalhos de pesquisa, elaboração de monografias, ensaios laboratoriais,
validação e certificação de produtos são realizados por universidades
credenciadas e por órgãos oficiais de controle de qualidade de medicamentos.
9.
Todo o país é obrigado a ter a sua própria farmacopeia ou pode adotar a
farmacopeia de outro país?
Não
há obrigatoriedade de possuir uma Farmacopeia, Qualquer país pode elaborar sua
própria farmacopeia ou adotar a de outros países como oficial. Entretanto, como
a Farmacopeia reflete o avanço da ciência e da tecnologia de um país, a
existência de uma farmacopeia nacional pode ser considerada como um assunto de segurança
nacional, por assegurar a qualidade de insumos para fins farmacêuticos
importados ou medicamentos em uso no país.
Na
ausência de monografia oficial de matéria-prima, formas farmacêuticas,
correlatos e métodos gerais inscritos na Farmacopeia Brasileira, poderá ser
adotada monografia oficial, última edição, de um dos seguintes compêndios
internacionais:
Farmacopeia
Alemã
Farmacopeia
Americana
Farmacopeia
Argentina
Farmacopeia
Britânica
Farmacopeia
Europeia
Farmacopeia
Francesa
Farmacopeia
Internacional (OMS)
Farmacopeia
Japonesa
Farmacopeia
Mexicana
Farmacopeia
Portuguesa
Veja,
na íntegra, a Resolução (RDC 37/2009) que dispõe sobre as Farmacopeias
reconhecidas pela Anvisa.
10.
A Farmacopeia Brasileira segue os padrões das farmacopeias internacionais ou
tem normativa própria?
A
Farmacopeia se insere, rigidamente, nos padrões internacionais, porém, procura
soluções coerentes com o desenvolvimento tecnológico de nosso país, como, por
exemplo, o estabelecimento de métodos alternativos de análises.
11.
As farmácias são obrigadas a ter a Farmacopeia Brasileira? Por quê?
O
Decreto nº 96.607, de 30 de agosto de 1988, determina que as drogarias e
farmácias são obrigadas a manter exemplar atualizado da Farmacopeia Brasileira.
Há diversas razões para isso, mas o principal é a segurança do consumidor, nos
casos em que se necessite de informações quanto à identificação e
característica de um medicamento.
Conforme
o artigo 4º do mesmo Decreto, além das drogarias e farmácias são obrigados a
manter exemplar atualizado da Farmacopeia Brasileira, os estabelecimentos de
ensino de Medicina, Farmácia, Odontologia e Veterinária, os órgãos de
fiscalização e controle de qualidade de medicamentos, os laboratórios
industriais e os estabelecimentos congêneres.
Os
estabelecimentos farmacêuticos, médicos, de odontologia e veterinários,
incluindo o setor de ensino, devem dispor de exemplares para consulta, sem
obrigatoriedade.
Entretanto,
com o lançamento virtual da FB5, as informações poderão ser acessadas a todo o momento,
desde que tenha internet.
12.
Como faço para obter a quinta edição da Farmacopeia Brasileira?
A
quinta edição está disponível na página da Anvisa, com acesso gratuito. A obra
impressa será comercializada pela Editora da Fiocruz.
13.
Utilizo monografia constante em edição anterior da Farmacopeia Brasileira, mas
que não foi publicada na FB 5. Posso continuar utilizando as edições
anteriores?
As
edições anteriores da FB foram revogadas pela RDC 49/2010. Caso não encontre
uma determinada monografia específica na FB 5, utilizar os outros compêndios
reconhecidos pela Anvisa, relacionados na RDC 37/2009.
Não tenha medo de consultar uma Farmacopeia.
Crie o hábito de ler. Um bizu: se você tiver uma farmacopeia em pdf pressione ctrl f e digite um termo que esteja relacionado
ao assunto que você procura; fica bem mais fácil de encontrar.
É claro que as farmacopeias não
contemplam todas as áreas. Mas a Anvisa possui uma área chamada de Bibliotecas
temáticas: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/regulamentacao/legislacao/bibliotecas-tematicas,
que contem uma compilação das legislações de várias áreas. Você não precisa
entender de tudo, mas conhecer sua área de atuação é importante.
Boa leitura!
Bibliografia:
https://www.gov.br/anvisa/pt-br/acessoainformacao/perguntasfrequentes/farmacopeia/farmacopeia-1 consultado em
09/12/2020